Page 61 - Centenário Sophia AEAV
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Os  seus  pés  enterravam-se  nas  ervas  geladas.  Ali  no  descampado  soprava  um  curto

            vento de neve que lhe cortava a cara como uma faca.
            «Tenho frio», pensou Joana.

                   Mas continuou a caminhar.

                   À  medida  que  se  ia  aproximando  dele,  o  pinhal  ia-se  tornando  maior.  Até  que  ficou
            enorme.

                   Joana parou um instante no meio dos campos.

                   «Para que lado ficará a cabana?», pensou ela.
                   E olhava em todas as direções à procura de um rasto.

                   Mas à sua direita não havia rasto, à sua esquerda não havia rasto e à sua frente não
            havia rasto.

                   «Como é que hei-de encontrar o caminho?», perguntava ela.
                   E levantou a cabeça.

                   Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava.

                   «Esta estrela parece um amigo», pensou ela.
                   E começou a seguir a estrela.

            (…)
                   Já no meio do pinhal pareceu-lhe ouvir passos.

                   «Será um lobo?», pensou.
                   Parou  a  escutar.  O  barulho  dos  passos  aproximava-se.  Até  que  viu  surgir  entre  os

            pinheiros um vulto muito alto que vinha caminhando ao seu encontro.

                   «Será um ladrão?», pensou.
                   Mas o vulto parou na sua frente e ela viu que era um rei. Tinha na cabeça uma coroa de

            oiro e dos seus ombros caía um longo manto azul todo bordado de diamantes.

                   — Boa noite — disse Joana.
                   — Boa noite — disse o rei. — Como te chamas?

                   — Eu, Joana — disse ela.
                   — Eu chamo-me Melchior — disse o rei. E perguntou:

                   — Onde vais sozinha a esta hora da noite?
                   — Vou com a estrela — disse ela.

                   — Também eu — disse o rei —, também eu vou com a estrela.

                   E juntos seguiram através do pinhal.
                   E de novo Joana ouviu passos. E um vulto surgiu entre as sombras da noite.

                   Tinha  na  cabeça  uma  coroa  de  brilhantes e  dos  seus ombros  caía  um  grande manto
            vermelho coberto de muitas esmeraldas e safiras.

                   — Boa noite — disse ela. — Chamo-me Joana e vou com a estrela.
                   — Também eu — disse o rei — também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.
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