A vida no mar
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Apesar da magnitude do feito português, o quotidiano dessas viagens foi acompanhado por inúmeros problemas, incertezas e dificuldades (os mais sérios estavam relacionados com as doenças e a má alimentação), podemos mesmo tratá-las como um feito de martírio e provação:
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A nau e a caravela, apesar de mais velozes e resistentes, não possuíam um casco encouraçado, eram alvos fáceis de rochedos e da própria força do mar e dos ventos.
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A própria natureza da navegação da época, fazia com que esses navios estivessem sempre sujeitos às diretrizes dos ventos e das correntes marítimas, uma tempestade quanto uma calmaria poderiam retardar a seqüência da viagem.
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A escassez de tripulantes adequados acabava por tornar o sistema de recrutamento alternativo um dos fatores corroboradores para os problemas com a disciplina e da dispersão de doenças a bordo. Pois na maioria das vezes, esses tripulantes que ingressavam na vida marítima provinham dos mais baixos estratos da sociedade portuguesa. Alguns deles já entravam doentes e subnutridos nas embarcações e outros partiam como degredados ou conseguiam abonar seu débito com a justiça caso ingressassem neste tipo de vida.
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No caso da alimentação, não podemos esquecer que essas embarcações contavam com excesso de tripulação. Uma vez que eram necessários muitos homens para dar conta, no braço, do manejo das velas. Mas também, não podemos excluir a hipótese do caráter mercantil com que essas navegações se desenvolveram. Para isso, deveriam contar com um excelente espaço interno a fim de comportar especiarias oriundas do comércio e da extracção colonial. Por isso, reduziam ao máximo o seu estoque de alimentos. A ração diária era péssima. Apenas alguns biscoitos, raramente peixes e carnes salgados, um pouco de vinho e/ ou de rum e uma água de péssima qualidade faziam parte da dieta desses marinheiros. A desidratação, a cólera, a pneumonia, o escorbuto e a infecção por gangrena, em casos de acidentes, eram as principais causas das mortes de grande parte dos tripulantes.
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Os atos do corso e da pirataria eram encarados como uma dificuldade constante que acompanhou toda a história marítima colonial portuguesa. Para se garantir a segurança das naus portuguesas rumo a Índia foi necessário estabelecer um sistema de defesa terrestre em combinação com o poder naval. Por isso, a conquista e a criação de praças e feitorias, no continente africano tais como Ceuta, Cabo Verde, São Jorge da Mina (século XV), Moçambique (século XVI) e no oriente tais como Calecute e Cochim (final séc. XV) e Goa, Malaca, Ormuz e Ceilão (década 1510), contribuíram para que os portugueses firmassem pontos no continente para abastecer seus navios, servir de abrigo das tempestades e estabelecer comércio com o gentio.
A Bordo de um navio temos...
Capitão – Este detinha acomodações próprias, possuía larga autonomia no comando e aspectos disciplinares, porém estava sujeito à autoridade maior da armada.
Capitão-mor – Este comandava a caravela, nau, galeão.
Piloto – Este ocupava a hierarquia entre o homem do mar e encarregava-se da orientação da navegação.
Sota Piloto - Este tomava a responsabilidade da navegação.
Mestre – Tomava a seu cargo a governação de marinheiros e grumetes, distribuía ainda as tarefas.
Contramestre – Ajudava o Mestre a comandar tudo o que se passava a bordo.
Guardião – Disciplinava e distribuía o serviço dos Grumetes.
Dois Trinqueiros- Reparavam o poleame e as velas dos navios.
Marinheiros - Asseguravam o serviço inerente à navegação e manobras do navio.
Grumetes – Representavam os jovens e adolescentes. A eles eram atribuídos os trabalhos mais pesados, sofrendo as piores condições de vida a bordo.
Mestre Bombardeiro ou Condestável – Comandava os bombardeiros, a eles era incumbida a função de fabricar a pólvora, respondiam apenas perante o capitão.
Bombardeiros – Este na ausência do cirurgião, ministrava os cuidados de saúde.
Capelão – Velava pela espiritualidade dos tripulantes.
Escrivão – Assegurava a redacção do diário a bordo, registo de ocorrências, inventários, escrituras e testamentos, rol de cargos aplicação imposta na compra e venda de bens.
Pajens - do mesmo escalão etário dos grumetes, porem com tratamento e funções diferentes estas próximas de mandaretes.
Meirinho ou Alcaide -
Despenseiros – controlava os mantimentos e rações dos tripulantes.
Artífices de cada ofício
Cirurgião – Responsável pelas caixas de botica.
Barbeiros cirurgiões - Homens com pouca cultura mas audaciosos e hábeis. Faziam a barba, tratavam das cabeleiras, sangravam, tratavam feridas e arrancavam dentes.
Carpinteiros – Restauravam a armação do navio.
Calafates, Tanoeiros – Fabricavam as pipas.
Principais alimentos
Exemplo de uma lista de alimentos: o biscoito, enchidos de toda a espécie, bolacha, vinho tinto, queijo, bacalhau, azeite, vinagre, sal, arroz, grão-de-bico, presunto, carnes e peixes, conservas – frutos secos (damasco, figos, ameixas, amêndoas, avelãs, e nozes); ervas aromáticas: alho, cebola, picante, louro, mostarda orégãos, entre outros.
Para conservar alguns destes alimentos mantinha-se as barricas cheias de sal.
Um dos principais problemas da alimentação a bordo, residia na qualidade da água, pois a falta de escalas na viagem fazia com que os navios usassem em todo o percurso a água do primeiro abastecimento em Lisboa, ou então quando se faziam escalas abasteciam-se os navios.
A partir do séc. XVIII demonstrou-se que a ração alimentar com frutos cítricos (laranja e limões) evitavam o escorbuto, no séc XIX foi determinado que a ingestão de arroz integral (em substituição do arroz polido) prevenia a ocorrência de beribéri.
Os víveres são embarcados consoante o planejamento da viagem, rota, tipo de embarcação. As caravelas, naus e galeões transportavam também animais vivos, tais como: galinha, coelho, carneiros, entre outros.