A importância de Lisboa
Um mercador de Lisboa descreve a rota terrestre da especiaria da seguinte forma:
"Desta terra de Calecute vai a especiaria que se come em Portugal e em todas as províncias do Mundo; vão também desta cidade muitas pedras preciosas de toda a sorte. Aqui carregam as naus de Meca a especiaria e a levam a uma cidade que está em Meca que se chama Jeddah. E pagam ao grande sultão o seu direito. E dali a tornam a carregar em outras naus mais pequenas e a levam pelo Mar Ruivo a um lugar que está junto com Santa Catarina do Monte Sinai que se chama Tunis e também aqui pagam outro direito. Aqui carregam os mercadores esta especiaria em camelos alugados a quatro cruzados cada camelo e a levam ao Cairo em dez dias; e aqui pagam outro direito. E neste caminho para o Cairo muitas vezes os salteiam os ladrões que há naquela terra, os quais são alarves e outros.»
«Aqui tornam a carregá-la outra vez em umas naus, que andam num rio que se chama o Nilo, que vem da terra do Preste João, da Índia Baixa; e vão por este rio dois dias, até que chegam a um lugar que se chama Roxete; e aqui pagam outro direito. E tornam outra vez a carregá-la em camelos e a levam, em uma jornada, a uma cidade que se chama Alexandria, a qual é porto de mar. A esta cidade de Alexandria vêm as galés de Veneza e de Génova buscar esta especiaria, da qual se acha que há o grande sultão 600 000 cruzados; dos quais dá, em cada ano, a um rei que se chama Cidadim 100 000 para que faça guerra ao Preste João."
As importantes rotas comerciais da seda e das especiarias, bloqueadas pelo Império otomano em 1453 com a queda da cidade de Constantinopla e do Império Bizantino motivou a procura de um caminho marítimo pelo Atlântico, contornando África.
As grandes repúblicas italianas, com Veneza à frente, que eram até então o centro do comércio europeu com o Oriente, do qual lhes advinha toda a riqueza, prosperidade e poderio, breve viram reduzida a sua importância. Ao estabelecer contacto directo com os países orientais, Vasco da Gama alterou para sempre a política, o comércio e as ciências da época.
Todos os anos afluíam ao Tejo os mais variados produtos (sedas, porcelanas, drogas, pedras preciosas, etc) e especiarias vindas da Índia (pimenta, gengibre, canela, cravo-da-índia, malagueta, noz-moscada) nos porões dos navios da Carreira da Índia, que através da Rota do Cabo, ligava Lisboa à Índia, substituindo a Rota do Mediterrâneo. Lisboa passou a ter um papel importante no comércio europeu e vários banqueiros nela se instalaram.