Onde falham os alunos? - relatório das Provas de Aferição de 2017
Os relatórios das provas de aferição, que acabam de ser revelados, mostram que a grande dificuldade dos alunos do Básico surge quando é preciso raciocinar, argumentar e relacionar conceitos.
Fonte: IAVE
Quando a pergunta é simples, sem rasteira e de conteúdos fáceis de memorizar, os alunos do Básico conseguem acertar na resposta, com maior ou menor dificuldade. Mas quando os mesmos conteúdos implicam capacidade de raciocínio e de interpretação do que foi aprendido na sala de aulas, os resultados caem a pique. Esta é uma das principais conclusões que se pode tirar do Relatório Nacional 2016-2017 sobre as provas de aferição do Ensino Básico, divulgado esta terça-feira pelo IAVE, Instituto de Avaliação Quantitativa.
O retrato dos alunos, que vai tendo alterações suaves à medida que avançam no percurso académico, é este: grande dificuldade em interpretar textos, escrita pejada de erros ortográficos e gramaticais, incapacidade de resolver problemas com frações e grandes bloqueios no cálculo. Também nas ciências, principalmente na Físico-Química, os conhecimentos consolidados são muito poucos. Na prova de Ciências Naturais e Fisico-Química do 8.º ano, de 2017, mais de 80% dos alunos revelaram dificuldades nas respostas ou não conseguiram dar uma resposta apropriada.
Adaptado de Observador
Alunos do 2.º ano (com 7 e 8 anos de idade)
Dificuldade em interpretar um texto não literário, erros ortográficos e pontuação fora do sítio. Grande dificuldade nas frações, pouca na geometria. De Estudo do Meio sabem muito pouco, cantam uma melodia mais ou menos harmoniosa, dançam melhor e são ótimos a chutar uma bola. Este é o retrato dos alunos do 2.º ano do Básico.
Português
Quanto é que aprendemos quando só ouvimos? A ciência dá-nos um número bastante baixo, 20%. Os relatórios do IAVE sobre as provas de aferição de Português (de 2016 e 2017) mostram-nos isso mesmo. À primeira vista, o cenário parece bom: a percentagem de respostas certas na Compreensão Oral, avaliada em quatro itens depois da audição de um texto, foi elevada nos dois anos. Mas quando se olha para as respostas erradas, a conclusão repete-se: a maioria das respostas incorretas surge quando é preciso capacidade de interpretar aquilo que foi ouvido. E a dificuldade ainda é maior quando é preciso localizar informação necessária para responder às perguntas a partir das audições dos textos.
Em relação à Leitura, houve uma diferença nas provas dos dois anos. Em 2016, o suporte foi apenas de um texto literário. No ano seguinte, recorreuse também a um texto não literário. Enquanto na oralidade os alunos revelaram problemas em encontrar informação explícita depois da audição dos textos, essa dificuldade não se sente quando a procura é feita num texto escrito. A generalidade consegue responder de forma correta a este desafio.
A grande diferença dos resultados de um ano para o outro está na capacidade de interpretar o texto. Enquanto os alunos do 2.º ano em 2016 manifestaram muitas dificuldades em refletir sobre o conteúdo do texto que leram, — o que valeu uma recomendação do IAVE no sentido de insistir mais na leitura de textos literários e na sua interpretação — no ano seguinte essa dificuldade parece estar atenuada quer no texto literário quer no não literário, com a percentagem de respostas corretas a variar entre os 67% e os 90%. Em 2017, a grande dificuldade de interpretação — com 64% de respostas erradas — foi num texto onde era necessário interpretar um horário (conteúdo de Estudo do Meio).
Na Gramática, não se encontra um padrão claro de um ano para o outro. Em 2016, os alunos do 2.º ano conseguiram boas percentagens de respostas corretas nos 5 itens que avaliavam este conhecimento. Com duas excepções: identificar nomes masculinos e uso correto de sinais de pontuação. Em 2017, escreve o IAVE, verifica-se que há conhecimentos que não estão consolidados enquanto outros estão completamente adquiridos. Curioso é que, na pontuação, as respostas corretas subiram exponencialmente, ficando nos 61% e nos 81% nos dois itens que avaliavam este conhecimento. As dificuldades dos alunos em 2017 foram reconhecer e distinguir nomes, adjetivos e verbos e reconhecer sons num conjunto de palavras ouvidas.
Na análise da Escrita, que foi avaliada através da redacção de um texto narrativo, o que se verificou em 2016 é que os alunos mostraram dificuldade em pontuar o texto corretamente e mais de metade fez erros ortográficos. Destes, 13% cometeu entre 11 e 15 erros em 50 palavras. Outra das fragilidades dos alunos foi manterem-se fiéis ao tema que lhes foi dado: só 32% conseguiu ficar dentro do tema pedido. No ano seguinte, a dificuldade aumentou e só 21% cumpriu integralmente a instrução quanto ao tema.
Em 2017, as dificuldades sentidas foram também ao nível gramatical: só 15% redigiu um texto em que os tempos verbais foram utilizados com coerência. A pontuação e o fraco vocabulário foram outros problemas sentidos.
Matemática
É com facilidade que os alunos do 2.º ano, quer em 2016 quer em 2017, identificam números pares, ímpares e naturais. As maiores dificuldades no domínio dos Números e Operações surgem quando nos exercícios aparecem fracções.Outro problema dos alunos nesta categoria é a visão relacional do sinal de igual. Se os alunos não encontram dificuldade em encontrar o número que somado a 11 dá 19, já não conseguem dizer que número deve ser somado a 11 para ser igual a 14+5. O IAVE sugere que na sala de aula os alunos sejam mais vezes confrontados com situações que permitam explorar o sinal de igual passando-se de uma visão procedimental (a seguir ao sinal coloca-se o resultado) para uma visão relacional.
No domínio de Geometria e Medida, em nenhum dos dois anos avaliados foi este um domínio especialmente problemático. Aliás, em 2017, o IAVE refere mesmo que não se registaram dificuldades assinaláveis. Ainda assim, importa referir que as maiores dificuldades tiveram a ver, em ambos os anos, com a identificação correta dos elementos de um paralelipípedo, cálculo de perímetros e nos itens que implicavam resolução de problemas. Foi na Organização e Tratamento de Dados que os alunos obtiveram melhores resultados: nos dois itens que avaliaram este domínio em 2016 as respostas certas foram de 86% e de 90%. No ano seguinte, de 85% e de 71%.
Estudo do Meio
Os conhecimentos de Estudo do Meio foram avaliados nas provas de Português e Matemática, não tendo havido uma prova específica para esta disciplina. E, quanto a ela, a parte mais difícil é encontrar um domínio onde os alunos se distingam pela positiva.
No domínio À Descoberta de Si Mesmo, e embora a maioria dos alunos tenha dado as respostas corretas, vê-se que ainda há uma percentagem significativa comdificuldade em responder a perguntas que envolvam os conceitos ‘antes de’ e ‘depois de’. Em 2016, apenas metade dos alunos deu a resposta correta à pergunta: “Quem chegou à meta em último lugar sabendo que a Lara chegou antes da Beatriz e depois da Carolina?”
Em 2017, a dificuldade com conceitos de relação espacial voltou a sentirse: apenas 45% dos alunos conseguiram acertar a posição de cada um de três animais em fila. Nesse mesmo ano, a pergunta com menos respostas certas foi a que pedia para relacionar a estação do outono com o mês de novembro. Só 32% conseguiram fazê-lo.
Traçar um itinerário numa planta foi um exercício simples em 2016, com 89% de respostas corretas, e terrivelmente difícil em 2017, com 32% de respostas corretas. Nas perguntas que avaliavam o conhecimento do Ambiente Natural, volta a haver resultados paradoxais: no primeiro ano avaliado, só 43% conseguiu dizer corretamente que determinado animal tinha cauda longa. Em 2017, esse número subiu para 77% nas perguntas relacionadas com características externas dos animais.
Expressões
Expressões Artísticas e Expressões Motoras
Estas duas provas autónomas não existiram em 2016, havendo apenas resultados para 2017. Nas Expressões Artísticas, avaliou-se a expressão musical, dramática e plástica. Foi com a Música que os alunos revelaram maiores dificuldades: só metade (51%) conseguiu cantar a mesma melodia da música que lhes foi apresentada. Exatamente o mesmo número de alunos que, na segunda parte da prova, conseguiu criar uma dança com fluidez e harmonia.
Já na Expressão Dramática, 78% dos alunos tiveram o máximo do desempenho quando lhes pediram para depois de olharem para um objeto imaginarem que ele era outro. Em seguida, deveriam explicar do que se tratava apenas por gestos. Na Expressão Plástica, a maioria dos alunos teve bons resultados nas duas tarefas pedidas: modelagem de um animal em plasticina a partir da observação de uma imagem e representação da personagem da canção ouvida na primeira parte da prova.
Nas Expressões Motoras também se conseguiram bons resultados em Deslocamentos e Equilíbrios (correr, saltar, equilibrar e rolar). A maior dificuldade foi na cambalhota à frente e sem interrupções — 40% dos alunos não conseguiram fazê-la corretamente. Saltar à corda, lançar, receber e pontapear uma bola foram as quatro tarefas para avaliar Perícias e Manipulações. A tarefa mais fácil (90%) foi pontapear uma bola com força dentro dos limites de um corredor e a mais difícil lançar uma bola para acertar num alvo na parede: 23% revelou pouca precisão e 10% não conseguiu executar a tarefa.