Como principais resultados, destacam-se:
- 1 em cada 2 portugueses não consome a quantidade de fruta e hortícolas recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS);
- Aproximadamente 1,5 milhões de portugueses (17% da população) consomem pelo menos um refrigerante ou néctares por dia, dos quais 12% são refrigerantes;
- Cerca de 9,8 milhões de portugueses (mais de 95% da população) consome açúcares simples acima do limite recomendado pela OMS (10% do aporte energético);
- Em média, os portugueses consomem 7,3 g de sal por dia. Aproximadamente 3,5 milhões de mulheres (65,5%) e 4,3 milhões de homens (85,9%) apresentam uma ingestão de sódio acima do nível máximo tolerado;
- Em 2015-2016, 10% das famílias em Portugal experimentaram insegurança alimentar, ou seja, tiveram dificuldade, durante este período, de fornecer alimentos suficientes a toda a família, devido à falta de recursos financeiros. A maioria destas famílias tem menores de 18 anos;
- A prevalência nacional de prática ‘regular’ de atividade física desportiva e/ou de lazer programada é de 41,8%, sendo mais elevada nas crianças (61%) e menor nos idosos (33%);
- 5,9 milhões de portugueses (quase 6 em cada 10 portugueses) têm obesidade ou pré-obesidade. Os idosos são o grupo mais vulnerável – 8 em cada 10 têm obesidade ou pré-obesidade;
- As prevalências de obesidade, de pré-obesidade e de obesidade abdominal são sempre superiores nos indivíduos menos escolarizados.
Sobre o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física
O primeiro Inquérito Alimentar Nacional (IAN) foi realizado, em 1980, pelo Centro de Estudos de Nutrição do Instituto Ricardo Jorge, com a colaboração do então Ministério da Agricultura e Pescas. Este inquérito foi agora retomado, através de um consórcio que envolveu investigadores nacionais e internacionais de nove instituições, tendo como promotor a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
O IAN-AF visa recolher informação nacional sobre o consumo alimentar (incluindo a ingestão nutricional e dimensões de segurança e insegurança alimentares) e sobre a atividade física e a sua relação com determinantes em saúde, nomeadamente os socioeconómicos. Teve como base amostral o Registo Nacional de Utentes (RNU) do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e como população alvo os residentes em Portugal com idade compreendida entre 3 meses e 84 anos de idade.
O IAN-AF foi financiado pelo Programa Iniciativas em Saúde Pública, EEA-Grants. Este programa resulta do Memorando de Entendimento celebrado entre o Estado Português e os países doadores (Islândia, Liechtenstein e Noruega) do Mecanismo Financeiro do Espaço Europeu. Pretende contribuir para a redução das desigualdades económicas e sociais nas áreas de saúde designadas como prioritárias.
Fonte: IAN-AF
Visão
Já temos a radiografia alimentar de Portugal - (adaptado de Visão)
Esta autêntica radiografia alimentar, proveniente do Inquérito Alimentar Nacional, revela um país obeso, onde mais de metade da população tem excesso de peso (57%) e um perímetro abdominal de risco (50,5%). Para esta situação, contribui certamente a baixa proporção da população jovem, entre os 15 e os 21 anos, fisicamente ativa (apenas 36%) e o facto da maioria das crianças passar até 2 horas por dia a ver televisão ao longo da semana (87%). E muito provavelmente, devido também à elevada ingestão de bebidas alcoólicas e açucaradas. Continuamos a beber muito álcool (24,3% dos homens, 1 em cada quatro adultos) consome álcool em níveis considerados excessivos, enquanto que 17% da população bebe diariamente refrigerantes ou néctares, a maioria com quantidades excessivas de açúcar. Nos adolescentes que bebem refrigerantes, 25% bebe aproximadamente, dois refrigerantes por dia. No final, o consumo médio nacional de açúcares simples é de 90g/dia. Um valor muito acima das recomendações da OMS, quase o dobro, sendo que apenas 3 % da população consome o açúcar recomendado internacionalmente! Estes valores são ainda mais alarmantes quando sabemos que entre 2006 e 2015, os encargos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos utentes com vendas em ambulatório de insulinas e antidiabéticos não insulínicos aumentaram 269%. Números aos quais poderíamos juntar a ingestão excessiva de sal e a sua relação com a hipertensão que atinge quase 4 milhões de portugueses. Os dados são de novo “fortes”. A ingestão de sódio acima do nível máximo tolerado foi identificada em 65,5% das mulheres e em 85,9% dos homens.
Isto significa que neste país, onde em média, por dia, são diagnosticados 168 novos casos de diabetes e que tem a maior taxa de acidentes vasculares cerebrais (AVC) da Europa Ocidental, causando dor e sofrimento à maioria das famílias atingidas, o sal e o açúcar continuam a ser tolerados pela sociedade como substâncias inócuas, não sendo ainda consideradas as prioridades número 1, 2 e 3 da saúde pública em Portugal. Ou da prevenção do Sistema Nacional de Saúde. Aliás, a Europa gasta em média 3% dos seus orçamentos com a Saúde na prevenção, revelando o quanto a alimentação está ainda longe de ser uma prioridade.
Felizmente, e no meio de tanta estatística assustadora, alguns sinais de mudança. Cresce o interesse dos cidadãos em torno da alimentação saudável e dos produtos com menos sal e açúcar. A taxa sobre as bebidas açucaradas foi implementada em Portugal com uma base forte de apoio por parte da população. Esperemos que parte do dinheiro arrecadado seja para investir na prevenção de doença e na promoção da alimentação saudável. Cresce o interesse por parte das cadeias de supermercados para modelos de informação mais simplificados e intuitivos como o provam os semáforos nutricionais da cadeia Continente. Aumenta a sensibilidade das autarquias (que tutelam a alimentação nas escolas) para modelos de oferta nas cantinas escolares mais saudáveis recorrendo a produtos e produtores agrícolas locais com incorporação de alimentos provenientes da agricultura biológica. Cresce a oferta de hortícolas e fruta nacional. Proíbem-se as máquinas de venda automática com produtos de muito má qualidade nutricional.
Esperamos que estes sinais signifiquem uma inversão de percurso e uma tolerância perto do zero para os produtos que nos “matam” no dia-a-dia, abrindo espaço para uma alimentação igualmente saborosa e diversificada, mas menos processada e mais amiga do ambiente e da nossa saúde.