Real Fabrica de Espelhos e Vidros Cristalinos de Coina
A Real Fábrica de Vidros de Coina, fundada por iniciativa régia (D.João V), ficou sob a égide da Fazenda Real até 1731. O seu encerramento aconteceu em 1747.
A fundação do estabelecimento industrial de Coina ocorreu quando o declínio da vidraria italiana se anunciava e as indústrias vidreiras inglesa, francesa e alemã se renovavam e se expandiam para outros países.
Em Coina, foram adotadas diferentes técnicas de laborar o vidro, as quais estão documentadas nos vestígios arqueológicos e na tipologia dos seus produtos. Com apelo a estes dados importantes, e por iniciativa do município do Barreiro e do IPPAR, a estação arqueológica de Coina foi classificada como imóvel de interesse público, em 1997.
Na trilogia essencial da produção desta manufactureira – a cristalaria, a vidraria e a coparia, o vidro plano e a garrafaria – foi identificado vidro cristal fabricado com chumbo e, ainda, a presença de componentes tipológicas de diferentes origens técnicas no conjunto produtivo, como a façon de Venise, a façon d’Angleterre, a tradicional e a proveniente da moda do vidro da Boémia.
Quanto ao fabrico da vidraça, foi identificada a tecnologia do vidro plano vazado e moldado em mesa metálica, então uma inovação técnica francesa que entrou, pela primeira vez, na Península Ibérica, através do porto de Lisboa, uns anos antes de ser aplicada em Castela e na Inglaterra.
Quanto à garrafaria, estabelece-se uma importante distinção entre os recipientes tradicionais, para verter líquidos, e a modernidade das garrafas destinadas à embalagem para comércio. Este facto torna Coina uma manufatura muito avançada no contexto europeu, partilhando com a Inglaterra e a Holanda um importante papel, que urge clarificar, na produção de garrafas para vinho generoso, no qual se encontrava o vinho do Porto.
As razões do encerramento prenderam-se com questões ligadas a um dos combustíveis que alimentava os fornos do vidro – a madeira - abundante em toda a Margem Sul e utilizada nas “indústrias” da região, (construção naval, fornos do biscoito, fornos de cal).
Portugal vivia então uma época sumptuária, a sociedade sustentava-se dos rendimentos do ouro do Brasil, tinha exigências muito mais sofisticadas. A Real Fábrica de Vidros constituía também, uma resposta a essa necessidade de produtos de luxo, como os espelhos e cristais, e vidreira comum – as vidraças para as janelas e em especial um fabrico de embalagem de garrafaria destinado à exportação. Por outro lado, a real manufatura constituiu um exemplo de exaltação e poder absoluto do monarca, expresso através das peças fabricadas em seu louvor.
Consultar
DGPC - Direção do Património Cultural
JORGE CUSTÓDIO – A Real Fábrica de Vidros de Coina [1719-1747] e o vidro em Portugal nos séculos XVII e XVIII. Lisboa: IPPAR, 2002. ISBN 972-8736-08-8