Património urbano
Zona Velha
Esta área corresponde ao aglomerado primitivo da cidade do Barreiro onde se encontram edifícios ou conjuntos de edifícios e espaços públicos urbanos de indiscutível interesse histórico e patrimonial.
De acordo com as características que possui, podemos dividir esta área em duas grandes zonas: uma mais antiga, de traçado irregular e de cariz medieval que se situa entre o Beco de São Francisco e a Rua do Conselheiro Joaquim António de Aguiar (Rua Aguiar), que inclui ainda o Largo Rompana e as igrejas da Misericórdia e de Santa Cruz,. Esta zona corresponde à área povoada e construída ao longo dos séculos XV e XVI.
A outra zona desenvolve-se paralelamente ao rio Tejo, desde a Igreja de Nossa Senhora do Rosário até ao Largo Alexandre Herculano, apresenta um traçado reticulado, quase irregular, e corresponde à expansão da vila do Barreiro ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX. É nesta zona que se encontram os edifícios mais significativos de arquitectura de habitação do século XIX e da primeira metade do século XX, de fachadas azulejadas.
Vista de rua (R. Marquês de Pombal)
Vista de rua (R.Conselheiro Joaquim António de Aguiar)
Edifícios das Coletividades
A primeira associação de carácter recreativo é fundada em 1848, a Sociedade Filarmónica Barreirense, que em resultado de uma cisão interna em 1870, dá origem às actuais Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros” e Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses”.
Contudo, a mais antiga colectividade do concelho é a Sociedade Filarmónica Lavradiense, fundada em 1867.
Antes do final do século XIX, em 1898, foi fundada em Santo António da Charneca a Sociedade Filarmónica União Agrícola 1º de Dezembro.
Edifício da Sociedade Democrática União Barreirense «Os Franceses»
O edifício apresenta planta composta por Sede da colectividade e Ginásio. O primeiro foi construído de raíz em 1930. Trata-se de um imóvel cuja arquitectura apresenta aspectos de revivalismo numa linguagem classicizante, ao nível dos arcos plenos, das pilastras que conferem muito ritmo à fachada, dos florões e pendões, tudo em estuque relevado. Em coroamento uma platibanda em balaustrada. Adossado ao edifício antigo, o Ginásio, que foi construído em 1964.
Edifício sede da Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense «Os Penicheiros» (SIRB)
O edifício cuja fachada principal abre para o Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, resulta da reconstrução da antiga sede da colectividade, concluída em 1926. Trata-se de um imóvel cujas características arquitectónicas, apresentam sobriedade no piso térreo e alguma diversidade de influências estilísticas ao nível do piso superior. No tardóz desenvolve-se o Salão de Festas, inaugurado em 1950, apresenta uma arquitectura modernista e funcional.
A história da coletividade remete para a origem do associativismo no Barreiro, pois vai ser por seu intermédio que se mantém em actividade a antiga Sociedade Filarmónica Barreirense (SFB), até 1892. Nesta data, a 1 de Janeiro, é dada como extinta a SFB e criada a actual SIRB.
Edifício da Associação Desportiva e Cultural “O Praiense”
Compõe-se de 3 pisos, planta rectangular, 3 fachadas, a principal voltada a Nascente. Apresenta arquitectura de tipologia Art Déco, com expressão plástica marcante, ao nível do seu enquadramento urbano, em pleno centro histórico do Barreiro.
Edifício construído nos primeiros anos do século XX, com utilização inicial de comércio no piso térreo e habitação nos pisos superiores. Após ter estado encerrado alguns anos, reabriu como pensão nos pisos superiores e café no piso térreo, onde foi local de encontro e tertúlias de muitas figuras barreirenses. Data de 1986 a instalação da Associação “O Praiense”.
Antiga Escola Primária do Lavradio
Os edifícios escolares representam uma forma particular de Património. Por um lado constituem uma referência da nossa memória coletiva, por outro representam diferentes conceções do ensino. Como consequência do aumento populacional que se verificou no concelho em meados do século XIX, e não existindo estabelecimentos de ensino oficial, surgem várias escolas de ensino primário particulares, com objetivos beneméritos e religiosos.
Atendendo à necessidade de equipar e investir na educação, o Estado promove um programa para a elaboração de projetos de edifícios destinados a escolas de instrução pública, da responsabilidade do arquiteto Arnaldo Ferreira Adães Bermudes. Através deste programa foram construídas entre 1902 e 1912 cento e oitenta e quatro escolas, nas quais se inclui a Escola Primária Oficial do Lavradio. Edifício exemplar da tipologia Adães Bermudes, inseria-se no «Programa para a elaboração de projetos de edifícios destinados a escolas de instrução primária», da autoria deste arquiteto, vencedor da Medalha de Ouro de Exposição Universal de Paris, 1900. O programa destes edifícios apontava para a valorização da instrução e do Professor como agentes do Progresso, de acordo com os ideais liberais e republicanos da época.
O projecto previa a habitação dos professores no centro superior do edifício, quando de duas salas, ou em uma das extremidades mas com janelas e entrada pela fachada principal. Pretendia harmonizar o edifício, o meio e a criança, impondo uma dimensão estética que tornasse a escola um lugar mais atraente. Simultaneamente afirmava a importância do professor pela visibilidade e dignidade que conferia à sua habitação. Estas escolas tinham instalações sanitárias na parte posterior do edifico mas não havia abastecimento de água, esgotos nem antevia a iluminação artificial. Não existia uma zona de administração, biblioteca, de trabalhos manuais ou exposições, que já eram reclamadas pelos professores no final do século XIX. Previa-se a separação em escola feminina e escola masculina, possuía um corredor de circulação, entre a fachada envidraçada e as salas de aula, que ligava para o espaço do recreio e actividades físicas. Três amplas janelas em cada ala, asseguravam uma boa iluminação e o necessário arejamento das salas de aula.
Foi deliberada a sua construção pela Câmara Municipal do Barreiro em 30 de Outubro de 1902. O projeto foi bastante adulterado ao longo dos anos, pela necessidade de mais salas de aula. Encontra-se atualmente desativada.
Ver Vista de Rua
FONTE: CMB
Torre de Coina
Dominando a paisagem circundante, altiva e estranha, a Torre do Inferno encontra-se junto à Estrada Nacional n.º 10 em Coina, freguesia do Concelho do Barreiro, dentro da propriedade do famoso e controverso Manuel Martins Gomes Júnior, o “rei do lixo”, que deu brado em Lisboa e na margem sul do Tejo nos primeiros decénios do século XX.
A quinta onde se encontra a também chamada Torre de Coina foi propriedade rural, no século XVIII, de D. Joaquim de Pina Manique, político, cavaleiro da Ordem de Cristo e irmão do famoso intendente da rainha D. Maria I, Diogo Inácio de Pina Manique, o ultra-conservador que fundou a Casa Pia de Lisboa. Com as mudanças políticas ocorridas no século XIX e a dispersão da família Pina Manique, a propriedade entrou numa fase de abandono e decadência até que, nos finais desse século, foi comprada pelo "Rei do Lixo".
Fonte: VITOR MANUEL ADRIÃO, A TORRE DO INFERNO DO “REI DO LIXO”, Lisboa, 2012