Património Industrial
O Caminho de Ferro e o Barreiro
Em 1854 foi adjudicada a construção do ramal ferroviário ao Sul do Tejo. Sete anos mais tarde (1861) é inaugurada a Estação de Caminho de Ferro do Barreiro, actuais oficinas da EMEF.
A 4 de Outubro de 1884 é inaugurada a nova estação ferro-fluvial do Barreiro, projectada pelo Eng.º Miguel Pais. A nova Estação terminus ferro-fluvial dotada de um caís acessível possibilitava um transporte mais cómodo de pessoas e mercadorias entre as duas margens. A fachada Poente virada ao rio, articula elementos decorativos de temática marítima e vegetalista, em estilo neo-manuelino, característico do período romântico. Na fachada Sul, de carácter mecanicista e funcional, está localizado o hangar de embarque dos passageiros. É utilizado o ferro e o vidro, transparente e colorido, materiais construtivos inovadores na época.
A implantação do Caminho de Ferro provocou significativas mudanças na estrutura socio-económica do Barreiro. A antiga vila ribeirinha torna-se atração de muitos operários e suas famílias oriundos sobretudo do Sul do país, que no caminho de ferro encontravam trabalho e aqui se fixaram, deixando marcas muito próprias na cultura ainda hoje identificáveis.
Uma vila de pescadores transforma-se progressivamente numa vila industrial e de operários, cujos bens patrimoniais se encontram materializados na primitiva Estação Ferroviária; Estação de Caminho de Ferro do Sul e Sueste; Casa dos Ferroviários do Sul e Sueste; rotunda das máquinas; troços e ramais ferroviários; depósito de água; gruas de estação; armazéns e outras instalações.
A Indústria Corticeira
A instalação do caminho de ferro no Barreiro e o fácil escoamento de mercadorias por via marítima para Lisboa, proporcionaram o aparecimento da indústria corticeira no concelho do Barreiro.
Em 1890 são reconhecidas oficialmente duas corticeiras: a Garrelon & Cª na Rua Miguel Pais, e a de João Reynolds nas Lezírias empregando no total cerca de 68 operários.
Na década de 20 o número de fabricas de pranchas, quadros e rolhas é já de 40 e os operários excedem largamente o milhar. Os corticeiros representam cerca de 1/3 da população activa barreirense.
A indústria corticeira sofre a sua primeira grande crise no período pós 1ª Guerra, devido à perda de importantes mercados como o alemão, o russo, e o austríaco, à concorrência da cortiça norte africana, ao aumento do custo da matéria prima, e ao facto de a cortiça ser exportada em prancha e não manufacturada. E mais tarde a introdução do plástico no mercado veio substituir a cortiça em muitos materiais.
Estes entre outros factores levam a um processo de lenta agonia, que se irá traduzir, no desaparecimento da indústria corticeira no Barreiro.
Quimigal (ex-Companhia União Fabril)
Com a fusão, em 1897 das empresas Aliança Fabril e União Fabril surge em Lisboa uma nova empresa Companhia União Fabril, de que Alfredo da Silva se torna administrador gerente. Porém, é no Barreiro que o ambicioso projecto da Companhia União Fabril reúne as condições necessárias para a sua execução: nó ferroviário para o Sul do país; ligações fluviais entre as duas margens do Tejo e proximidade com as instituições financeiras e comerciais de Lisboa. Em 1907 iniciam-se os trabalhos para a edificação do complexo industrial no Barreiro.
Numa primeira fase entram em laboração as fábricas de óleos para o fabrico de sabões. Gradualmente a produção estende-se aos sectores de laminagem de chumbo, soda, magnésio, ácidos e adubos, refinação de copra, sector têxtil, metalomecânica e construção naval.
A par da estratégia económica Alfredo da Silva lança as bases de uma política paternalista, a que chamou Obra Social, com a edificação, no perímetro da fábrica de um Bairro Operário (1908), uma rede de assistência médica, refeitórios, creche, despensa e instalações desportivas.
Esta política tinha por objectivo não só ligar o operário cada vez mais à fábrica, mas visava também a pacificação social, numa terra onde as lutas políticas tinham tradição. Este modelo económico perdurou até aos anos 70, do século passado.
Este antigo complexo de diversas unidades industriais e bairros operários, de toponímica característica, transforma-se a partir de 1989 no parque empresarial da Quimiparque.
Ver vista de rua.
Consultar
A CUF do Barreiro, um século de indústria
Industrialização em Portugal no século XX: o caso do Barreiro, Actas do colóquio internacional, Lisboa, 2010